O regresso do objeto

Separadores primários

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Capa de um disco de Jethro Tull
Cassete de James Last

Já passaram duas décadas deste século, o que é tempo suficiente para os mais novos descobrirem, com curiosidade e espanto, os objetos que serviram de suporte à reprodução sonora das gerações anteriores.

Também já é tempo para despertar, entre os mais velhos, a saudade e a nostalgia trazida por memórias passadas, adoçadas pela distância e deturpadas pelos sentidos. Primeiro foi o vinil (na verdade, nunca deixou de ser produzido só que para uma restrita minoria), agora regressam as cassetes, o suporte de música mais democrático e popular de sempre.

Com o vinil renasceram das cinzas os fabricantes de gira-discos, células, acessórios como escovas, líquidos de limpeza, capas, etc., e as lojas fizeram o inverso do que aconteceu nos anos 80, atiraram os CD para um canto e deram todo o espaço aos singles e LP da moda. As editoras esfregam as mãos, voltou o lucro mais fácil e menos dependente das migalhas do streaming.

Mas falta a cultura, o respeito pelo objeto. Mal produzidos, mal armazenados e mal expostos, muitas vezes o que se leva para casa são gravações com qualidade pior que MP3, capas amarrotadas, discos empenados ou riscados...

Vale o mercado de usados, cada vez mais valorizado, e as editoras de qualidade que trabalham para um público apreciador e que não se importa de puxar pelos cordões à bolsa.

Algumas lojas especializaram-se no vinil de qualidade e o negócio vai bem.

Não existe qualquer evidência que isto seja uma moda passageira. Parece que continuaremos com este suporte analógico por muitos anos.

A nostalgia das cassetes não é menos forte. Depois da rádio, a cassete foi o meio mais democrático, popular e barato, de ouvir música. Não tanto pelas cassetes pré gravadas (tanto ou mais caras que os discos), mas pela possibilidade de gravar o que se queria, e de onde? Do meio de comunicação mais popular: a rádio!

Dedo preparado, ouvido atento e a tecla "Rec" pronta para iniciar a gravação daquela música especial de que se gostava. E pronta para parar quando o locutor interrompia, propositadamente, a música para um qualquer comentário sem interesse, como a hora ou o estado do tempo.

Os gravadores com rádio ajudaram muito nesta tarefa e os Walkman, inventados pela Sony em 1997, foram determinantes na democratização deste suporte.

Como era de esperar, a indústria fonográfica não perde tempo. Renascem as fábricas de cassetes, são lançados novos álbuns mas existem alguns detalhes que não trarão à cassete o brilho de antigamente.

A sofisticação dos gravadores e reprodutores de cassetes, principalmente a partir de meados dos anos 80 e até ao fim da produção em massa no início deste século, não é replicável. Um gira-discos é um prato, motor e braço, um "deck" de cassetes é uma máquina complexa, com muita mecânica de alta precisão e eletrónica sofisticada.

Além disso, já não é possível, até por razões de licenciamento, usar recursos especiais como o Dolby ou o HXPro. As novas edições serão sempre pobres e só resta a possibilidade de inovar na parte física, caixa, cor, formato, etc., embora limitadas ao tamanho do objeto.

Existe um bom mercado de usados e podem ser encontradas gravações com 30 ou 40 anos em excelentes condições.

Uma boa cassete e um bom deck podem proporcionar um som analógico muito agradável, surpreendente até.

Os objetos da nossa memória